É próprio do ente humano (animal social) buscar interação com semelhantes e com o ambiente que o cerca, respondendo as necessidades que sua condição humana determina, ultrapassando a simples sobrevivência, atendendo as solicitações de sua consciência viva (consciência de si, consciência de estar), o que realiza por intermédio de sua capacidade racional, sensibilidade e imaginação. Como “ente no mundo”, ligado no convívio social ao coletivo, sua resposta mais imediata é reagir a um conjunto de “representações de mundo” comunicadas por meio da linguagem padrão da comunidade a qual pertence, ou do simples contato com semelhantes próximos. O indivíduo assimila assim, gradativamente, uma cultura social.
Cada comunidade humana tomada em particular tende a produzir “representações de mundo” em consonância com o ambiente onde vive. Mas, hoje nos deparamos com o fenômeno da globalização não apenas econômica, mas, também cultural alavancada pela disseminação da cultura ocidental e do modo de produção capitalista (originado nas comunidades européias) pelo planeta. Esse processo de “unificação cultural” do mundo pode ser visto como um embate entre culturas diversas e adaptação à “moda global” por parte de culturas locais, quando essas não sucumbem às representações de mundo hegemônicas.
Reconhecendo o homem como animal social, não podemos, porém, esquecer as peculiaridades subjetivas de cada indivíduo humano. Um indivíduo humano não é simples parte do coletivo, mas é também consciência em interação com o mundo e nesse sentido afirmamos a dependência do homem com relação à natureza. A forma como cada indivíduo humano irá reagir ao mundo será própria de seu “eu”, levando em consideração a realidade na qual sua consciência vive. Esses pressupostos são imprescindíveis para um maior esclarecimento sobre a realidade humana na contemporaneidade, na era da globalização que intensifica choques culturais.
Mas, a globalização cultural não é destruição de diferenças, muitas das quais se assumem em contraponto a essa situação histórica.
Partindo de um olhar sobre a situação das diferenças culturais no mundo e das diferenças individuais dadas pela subjetividade de cada ente humano, obrigado somos a pensar uma teoria (visão) que oriente nosso agir no mundo guiando nosso comportamento diante do “outro”. Uma ética pensada para a nova situação do mundo humano, algo para atender a realidade contemporânea, fundamentada em princípios filosóficos que assegurem a afirmação das peculiaridades de cada indivíduo desde que suas ações não prejudiquem a sociedade e a natureza da qual é parte consciente.
As diferenças, a variedade de representações de mundo, podem ser positivas para a espécie humana, mas só uma ética para a convivência pode amenizar o embate entre culturas e a violência social quando esses nascem do desespero e do desprezo pelo “outro”. Tal ética é uma exigência de nossa capacidade racional, instigada por uma volição de transformar o mundo em um ambiente mais propício para a vida humana. Essa possibilidade pode ser construída não só através da reflexão filosófica (preocupada com a práxis social), mas, também por intermédio do desenvolvimento da democracia participativa, sem a qual não pode vingar.
Paulo Vinícius Nascimento Coelho
Licenciado em Filosofia pela UFSM ; Especialista em Pensamento Político Brasileiro.
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